Que dia mágico era aquele! Meu primeiro dia de
férias, depois de mais um ano de trabalho e estudos. Era um sábado à tarde
quando saí do meu trabalho, mentalmente esgotado, mas feliz, porque saindo
dali, iria encontrar meus amigos novamente, em um sítio próximo, no qual
passaríamos 4 dias de descanso, lazer, sem o trabalheira do cotidiano. Como é
bom estar de férias!
Todos já haviam ido para o sítio, e
fiquei como retardatário. Sem problemas, pois essa situação já é comum. Entro
no ônibus, escolho um lugar à janela, ligo meu MP3 e vou curtindo uma boa
música, temperada às belas paisagens ocorridas à beira da estrada. Um momento
de paz, com cores verdes e tons graves e agudos, dançando de forma sincrônica.
Ao descer do ônibus resolvi caminhar
para chegar ao local. Não sou atleta, mas gosto de caminhar, para manter na
mesma sintonia da música e paisagem. Meus amigos até tinham se disposto a me
buscar, mas acho que até a surpresa seria bacana. Pus-me a andar, cantando
mudo, andando com as mãos no bolso, sem pressa.
Quando cheguei ao sítio, o mesmo
clima de toda viagem era mantido, com exceção da farra que já estava ocorrendo.
Fiquei feliz ao vê-los todos ali, à vontade, jogando sinuca, curtindo a pequena
e artificial cascata aos pés da piscina, até mesmo uma rodinha tocando violão.
Assim entrei, sem ser notado. Alguém percebeu, quando já estava quase junto à
turma. Fizeram então uma festa ao me receber. Quanta alegria! Sempre fomos
assim uns com os outros, muito amigos!
Tratei logo então de pegar um drink,
e assentar-me próximo ao pessoal da música. Passamos ali uns bons momentos
cantando. Mais tarde haveria um lual, ao redor de uma fogueira. À medida que o
tempo foi passando, fomos nos arranjando, fazendo pequenas tochas, cobrindo a
grama com toalhas para sentar, afinando os violões entre outros.
Fui o último a tomar banho, já que
me ocupei com a preparação. Ao terminar, que pude observar a todos. E como
estavam todos belos! Não belos por serem amigos, mas aquela noite parecia
especial, pois todas as pessoas estavam vestidas pro lual de forma elegante.
Acho que o brilho daquela noite estava alastrando para todos.
Como algumas pessoas ainda estavam
pra chegar, foram se juntando nas toalhas, em pequenos grupos. Tudo perfeito. Peguei
meu segundo drink e aproximei-me da fogueira. Estava deitado, no canto de uma
das toalhas, que ainda estava vazia. De olhos fechados, não reparei exatamente
as pessoas que chegaram, apenas que era um grupo de 5 ou 6 pessoas. Lembro
exatamente desse momento, pois na hora tocava Biquini Cavadão, a música era
“Quando Eu Te Encontrar”. Nunca vivi nenhum momento especial, para relacionar
essa música, mas ela é muito bela, uma das mais românticas que já escutei. Além
disso, havia um cheiro deveras agradável de perfume. Não sou a melhor as pessoas
para identificar odores, mas era suave, refrescante, que chegava próximo ao
cheiro de flor. Permaneci ali, de olhos fechados apenas apreciando o momento.
- Tato!
Abri os olhos nesse momento para ver
o que ocorria. Com um sorriso leve e sincero respondi:
- Olá Carina! Que surpresa boa ter
você aqui! Por um momento achei que não viria.
Sentei, e nos abraçamos. Somos
amigos de muito tempo.
Junto a ela, tinham mais outros
amigos, que foram recebidos da mesma forma. Deitei novamente, e agora a almofada,
que era grande e macia, foi compartilhada por parte desses amigos. Os demais
foram se ajeitando, usando nós como almofadas.
Ao entardecer, algumas pessoas
saíram, seja pra comer algo, pra ir dormir, ou mesmo namorar. Mas eu estava na
minha “vibe”. Fiquei até o fim, e somente depois levantei para comer algo.
Depois de comer, o cansado devido ao dia de trabalho me alcançou, e fui dormir.
Pelo visto a turma da minha toalha também foi.
Os quartos não comportavam a todos,
então eu fui dormir nos colchões, no chão. Em pouco tempo todos estavam
dormindo, menos eu. A cama improvisada estava realmente confortável, melhor até
que minha própria cama. Mas eu estava apenas cansada, mas sem nenhum sono. Esse
estado de alegria e paz interior me deixava extasiado. Fiquei assim, deitado de
barriga pra cima, e braços cruzados atrás da cabeça, olhando para o teto, sem
pensar em nada.
Perdi a noção do tempo, mas começou
a chover aquelas pancadas fortes que não duram muito tempo. Até mesmo começou a
trovejar. Passou mais de 10 minutos chovendo e trovejando, até que reparei um
par de olhos despertos (ou nem adormecidos) que estavam a me almejar. Virei pra
olhar, e descubro que não era apenas pressentimento. Dois olhinhos pequeninos,
mas bem abertos, apreensivos. Era Carina.
- Oi meu anjo... Acordada até essa
hora?
- Eu gosto muito de chuva, e trovão,
mas esses estão me deixando com medo.
Era visível que ela estava mesmo
inquieta, apesar de ter ficado silenciosa e imóvel nesse tempo que fiquei meditando
acordado. Ou talvez eu estivesse tão alheio a tudo, que não havia percebido. O
fato era, ela estava mesmo com medo.
Ela dormia na cama, ao lado de onde
eu dormia e por isso estendi minha mão a ela, com o mesmo sorriso simples e
bobo que tenho:
- Segure minha mão.
Ela então agarrou minha mão, com
suas duas mãozinhas, com um leve aperto.
Seguimos ali, em silêncio por alguns
segundos, nos olhando nos olhos. E mais um trovão. Ela fecha os olhos rápida e
intensamente, e aperta minha mão. Nada de machucar, mas foi com a força que ela
tinha. Era uma situação irônica, pois ela nunca fora nem um pouco medrosa,
muito pelo contrário, era sempre a mais corajosa.
Depois dessa cena, quando ela
relaxou um pouco, eu sorri novamente pra ela, e pedi que deitasse comigo. Não
seria a primeira vez, somos amigos de muito tempo, e nunca aconteceu nada
demais. Ela, até mesmo pelo medo, veio se deitar.
Coitada da guria! Estava com o corpo
gelado. Ao contrário de mim, que estava até com calor. Enfim, estava bem
confortável estar com ela. Estava realmente muito agradável. Eu me mantive
deitado de barriga pra cima, e ela se deitou no meu braço, próximo ao ombro.
Quase que imediatamente ela fechou seus olhinhos. Pareci uma anjinha, com o
rosto e a alma mais casta que eu jamais vira antes. Coloquei a mão, do meu
braço livre na cintura de Carina, e fiquei acariciando-a, e voltei a “estar em
transe” acordado, olhando pro teto.
O tempo passou novamente, sem que eu
percebesse.
- Meu anjo.
Naquele momento eu assustei! Era
Carina, mas eu estava crente que já havia dormido há algum tempo, e acreditava
ainda que era um sono profundo. Nem a chuva e a trovoada estavam acordando-a. Seu
corpo já estava quente novamente.
Ela riu de mim, pelo susto. E foi
realmente engraçado. Olhei pra ela rindo também.
- Que susto, guria! – Ainda riamos,
mas em tom baixo, pelo avançar da hora.
- “Brigadim” por meu deixar deitar
contigo. Você é muito querido!
- Nada demais, gosto de ti! – E
sorrimos um para o outro.
Depois disso, ela que estava
encolhida, passou seu braço esquerdo e pousou-o em mim. Foi estranho.
Diferentemente das outras vezes que dormimos juntos, não sentia, como me sentia
agora. Fiquei sem graça, por dessa vez, ter ficado afetivamente balançado com o
ato dela. Fiquei quieto, para que meu desejo não fosse expresso de nenhuma forma.
Ela me acariciava da forma que eu
fazia nela, enquanto dormia. Não seria nada demais em outrora. Abaixei o rosto
em direção ao dela, e pra minha surpresa, ela estava séria (mas não brava), me
olhando, e parecia que havia um tempo. Sempre fomos de brincar de flertar um
com o outro, mas como ela nunca levou a sério, sempre ficou como brincadeira.
Não hesitei! Fui aproximando meu
rosto do dela. Ela mantinha os olhos firmes, porém doce, como uma anja
autêntica. Ela não reagiu com a aproximação, nem positiva, nem negativamente.
Não hesitei!
Quando meus lábios encontraram os
lábios dela, foi indescritível! Parecia um sonho dos tempos de infância, sendo
realizado. Como quando a criança acorda na manhã de natal e enche os olhos ao
ver a árvore de natal recheada com tantas caixas embrulhadas, com papéis
coloridos e brilhantes... Era assim que me sentia.
Provavelmente era um dos primeiros
beijos dela. Apesar de sua idade próxima à minha, ela era muito desligada
quanto às relações afetivas. Não por ser fria, mas por não precisar disso pra
ser feliz.
O beijo foi mesmo fantástico. Tinha
um sabor dos meus primeiros beijos, da descoberta, dos primeiros frios na
barriga. Tinha um formigamento delicioso em meu corpo. Um verdadeiro choque de
emoções.
Chegou aquele momento em que os
lábios se separaram, os rostos se afastam ao ponto de os olhos voltarem a se
encarar... Foi novamente estranho. Ela continuou sem reagir. Eu não sabia o que
fazer, falar ou até mesmo pensar.
Só depois de uns longos segundos, é
que ela desviou o olhar, para baixo, e ficou corada. Coisa que ela não está
acostumada é de ficar sem graça.
Com a mão que estava na cintura de
Carina, coloquei-a em seu rosto, alisando-o, tirando as poucas mechas dele que
estavam à cobri-lo.
- Desculpe meu anjo. Não sei nem o
que dizer...
De cabeça ainda baixa, ela responde
baixinho, quase inaudivelmente:
- Não...
Quase engasguei ao ouvir isso, e ela
prosseguiu:
- ... tem culpa, eu quis. Eu gostei.
Pela segunda vez em segundos, fique
embasbacado. Rapidamente me refiz, e levantei seu rosto, com um leve toque em
seu queixo. Novamente nos olhamos, mas dessa vez não me atrevi a tentar beijá-la.
Foi então que ela riu pra mim, de
forma maliciosa... Novamente, não hesitei! Novamente um beijo fantástico! Dessa
vez mais firme, sabíamos e queríamos isso! Foi intenso! Ela a muito já prendera
meus sentimentos. Ela parecia gostar muito, porque mesmo sem jeito, ela
demonstrava muito desejo.
Delongamos em várias horas assim...
Deu pra ouvir o galo cantando. E então fomos dormir, afinal de contas, teriam
mais 3 dias de sítio, muita coisa pra acontecer. Kkkkk.
Aguardem os próximos episódios dessa
mesma história.
WINE, Tato
WINE, Tato